Como é mesmo que funciona o ar-condicionado?

Começo de ano é sempre uma boa época pra gente fazer planos. Mas também podemos aproveitar esses momentos e revisitar assuntos importantes, que acabam ficando em segundo plano no corre-corre diário.

Foi numa hora dessas, por exemplo, que eu me vi debruçado sobre um artigo mostrando como a químico-física pode ser usada para explicar o funcionamento do ar-condicionado, a partir do ciclo de refrigeração por compressão de vapor.

Basicamente, o texto mostra que, uma vez comprimido pelo compressor, o fluido refrigerante move o calor de um lugar para o outro, ora em forma de gás, ora em forma de líquido.

Sem querer dar uma de professor Pardal, resolvi tocar hoje neste assunto, começando por lembrar que quando um líquido evapora, ele absorve calor, sendo que em seu estado original, as moléculas mantêm-se juntas por interações intermoleculares fracas. Algumas delas, porém, absorvem energia térmica suficiente, isto é, movem-se rápido a ponto de superar tais interações.

O trabalho básico de um ar condicionado, portanto, é usar a mudança constante do fluido refrigerante, do estado líquido para o gasoso, para mover o calor de um lugar (ambiente climatizado) para outro (lado externo).

Trocando em miúdos, os condicionadores de ar precisam executar duas tarefas: despejar o calor absorvido pelo refrigerante no lado de fora e, em seguida, condensar o refrigerante de volta em um líquido para que ele possa ser usado de novo.

Quem realiza essas tarefas no interior do sistema é o compressor, ao aumentar a pressão do refrigerante gasoso e condensá-lo em líquido novamente.

Já o calor perdido para o ar em torno do equipamento acaba sendo soprado para a parte externa por um ventilador.

À medida que o refrigerante se condensa, o ar condicionado retira a pressão com uma válvula de expansão, para que o refrigerante possa ferver novamente. Esse processo se repete até ser atingida a temperatura ajustada no termostato.

Por tudo isso, qualquer que seja o refrigerante indicado para um sistema, ele precisa ter baixo ponto de ebulição, pressão alterada facilmente, ser bom na condução de calor e absorvê-lo cada vez mais, enquanto vai aquecendo.

Claro, seu preço precisa ser acessível, deve ser encontrado em abundância no mercado, não ser inflamável nem tóxico e, principalmente, ser inofensivo à camada de ozônio e contribuir o mínimo possível para o aquecimento global.

Ar-condicionado também pode economizar no inverno

A gente sabe muito bem que o valor da conta de luz sobe na mesma proporção da queda da temperatura. É lógico, todo mundo usa mais o chuveiro no quente, aquecedores e, claro, o ar-condicionado. Pois é justamente aí que entra o nosso trabalho, para evitar ao máximo um aumento de consumo, além do normalmente esperado durante o inverno.

O ideal, cá entre nós, seria os próprios imóveis serem construídos pensando em coisas assim, isto é, com bons materiais isolantes nas paredes e tetos e vidros duplos, por exemplo, como forma de reter melhor a temperatura obtida pela climatização dos diferentes ambientes da casa ou apartamento.

Mas nem sempre isso acontece e o negócio é fazer a nossa parte ao ajustar o termostato para as condições de conforto mais próximas da temperatura externa, que, segundo especialistas, deve ficar entre 19°C e 21ºC nas estações mais frias.

Igualmente importante é a manutenção correta e constante das máquinas, providenciando a limpeza de filtros, serpentinas e outros componentes vitais, um trabalho mais abrangente quando se tratam de instalações maiores, para as quais, inclusive, vigora desde janeiro uma lei obrigando a realização do Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC).

Ar-condicionado e recém-nascidos combinam, sim

Desativar os condicionadores de ar da casa e, principalmente, sequer instalar um aparelho no quarto do bebê são uma prática relativamente comum entre as famílias brasileiras.

Isso ainda ocorre porque os pais normalmente imaginam que a temperatura mais baixa ou alta em relação à do ambiente externo possa causar rinite, sinusite, asma e várias outras doenças.

Na verdade, a umidade relativa do ar deveria ser o principal ponto a ser observado, e nesse quesito particular os ambientes climatizados possuem uma proteção extra para evitar a proliferação de bactérias, pois a mantém em 50%.

Se mesmo assim a sensação de nariz ressecado aparecer, existem alguns recursos adicionais para impedir a retirada total da umidade do ar, dentre eles o uso de umidificador, bacia com água ou uma toalha molhada deixada no ambiente.

Já para evitar o tão temido choque térmico, o ideal é manter a temperatura entre 22 ºC e 26 ºC, faixa na qual a criança não terá calor ou frio em excesso, mesmo sendo mais sensível a variações térmicas em relação aos demais moradores da casa.

Portanto, cabe a nós refrigeristas orientar os clientes a manter seus lares climatizados, não só em função do conforto térmico, mas também dos benefícios trazidos à saúde, inclusive dos recém-nascidos.

Macetes para regular o ar-condicionado no inverno

Num país tropical como nosso, é compreensível que boa parte das pessoas considere a climatização dos ambientes necessária apenas para amenizar os efeitos do verão.

Mas isso – ainda bem – tem mudado na mesma proporção da chegada ao mercado de novos modelos quente/frio e com maior eficiência energética, derrubando assim o mito do aumento exagerado da conta de luz.

Existem, porém, alguns cuidados a observar no dia a dia e cabe a nós, refrigeristas, dar essas dicas aos nossos clientes, até mesmo para que eles continuem sendo usuários por muitos e muitos invernos.

A primeira dessas informações eu ouvi do conselheiro Ricardo Vaz de Souza, da Associação Sul Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Aquecimento e Ventilação (Asbrav), e vou compartilhar com você.

Segundo o engenheiro mecânico, é sempre bom lembrar que o ar-condicionado é um dos mais indicados sistemas de aquecimento, pois além de deixar a umidade relativa do ar ideal, ajuda a filtrar o ar e manter o conforto térmico.

Ele frisa ainda a importância da moderação na escolha da temperatura, devendo ficar sempre entre 21 °C e 24,5 °C, pois esta é a faixa na qual o corpo melhor se adapta. “Se colocarmos em 30 °C para esquentar o ambiente e depois baixarmos a temperatura, o que é comum acontecer, o gasto de energia elétrica aumenta, pois o equipamento vai realizar dois processos: aquecer e depois resfriar o ambiente”, explica o especialista.

Para manter o ambiente aquecido e diminuir a necessidade de utilizar sistemas de aquecimento, o conselho dele é deixar entrar a luz solar e manter os vidros fechados. Abrir persianas e cortinas durante o dia também é recomendado.

Finalmente, quem possui o equipamento unicamente na opção de resfriamento deve ligar os aparelhos pelo menos uma vez por mês durante meia hora, pois assim se movimentam fluidos e óleos, procedimento capaz de evitar defeitos futuros.

Choque térmico: mito ou realidade?

“Fecha essa geladeira, menino, você acabou de sair do chuveiro quente!” Quem de nós nunca ouviu a mãe, aflita, fazendo esse tipo de advertência? Afinal, sua avó deve também deve ter feito o mesmo com ela.

Intrigado com esse tipo de coisa, resolvi estudar um pouco mais o assunto, para saber se o nosso trabalho não estaria sendo cúmplice, indiretamente, do frio causador de doenças e, sabe Deus, até a morte de alguém.

Pois bem, acabei descobrindo que o chamado choque térmico só acontece mesmo em situações extremas.

A criança recém-saída do chuveiro apenas correria algum risco se fosse direto do chuveiro, usando apenas uma toalha, para um local onde estivesse geando. Quer dizer, as mudanças de temperatura causadoras de problemas são aquelas muito bruscas, algo fora do alcance de um simples refrigerador doméstico.

Mas, como em tudo na vida, há exceções. Pessoas com problemas cardíacos, asma e rinite devem evitar até mesmo contrastes pequenos, como o do exemplo da mãe zelosa.

E o ar-condicionado, como fica? Bem, a máxima consequência possível quando se troca rapidamente um ambiente aquecido por um gelado, e vice-versa, é a ocorrência de espirros, congestão nasal ou tosse, isto é, nada que se assemelhe a um choque térmico.

Por via das dúvidas, quando houver vários ambientes climatizados numa residência ou escritório, o negócio é equalizar as temperaturas dos evaporadores numa faixa entre 20 °C e 24 ºC, como forma de evitar reações orgânicas.

Esses parâmetros, inclusive, estão previstos na norma ISO 9241 e na NR-17, do Ministério do Trabalho, que também falam em velocidade de ar inferior a 0,75 m/s.