Resolução 123 do CFT: saiba o que muda no mercado do frio

Após todas as dificuldades trazidas pela pandemia, ao longo de 2020, o ano teve uma boa notícia no fim de dezembro: foi aprovada a nova edição da Resolução 123, do Conselho Federal dos Técnicos Industriais (CFT). Com base no Decreto 90.922/1985 e na Lei 13.639/2018, a resolução define claramente as atribuições profissionais dos refrigeristas.

O documento elenca seis resoluções que definem as atribuições profissionais dos Técnicos em Eletroeletrônica, Automação Industrial, Mecatrônica, Eletromecânica, Desenho de Construção Civil e Refrigeração e Climatização. Embora os dispositivos legais já previssem nosso papel no mercado do frio, as novas normas esclarecem pontos ainda não detalhados, assim visando a garantir que o serviço técnico seja executado por profissionais registrados, com capacitação específica em determinada área. 

Agora, os técnicos em refrigeração e climatização e técnicos em refrigeração e ar-condicionado podem conduzir e inspecionar os trabalhos de sua especialidade, inclusive assinando como responsável pela elaboração e execução de projetos. A resolução também inclui no escopo a prestação de assistência técnica em projetos e consultoria na compra, venda e utilização de aparelhos. 

Confira as demais especificações da Resolução 123 na íntegra. Clique aqui

Com isso, a expectativa é que a regulamentação aprimore o exercício profissional nos mais diversos segmentos. Para o professor Alexandre Fernandes Santos, diretor da Escola Técnica Profissional (ETP), de Curitiba, “a Resolução 123/2020 é muito importante para a área de refrigeração, pois dita quais são as responsabilidades dos seus técnicos”, diz ele, lembrando ainda a colaboração dada a esse processo pelo currículo do Cadastro Nacional dos Cursos Técnicos (CNCT). 

No entender do professor, a novidade vai ajudar muito os técnicos do HVAC-R, na medida em que tende a incentivá-los a se formalizar e passar pelos bons cursos em Refrigeração e Ar-Condicionado hoje existentes em grande parte do país. “As próprias escolas especializadas devem buscar aperfeiçoamento”, acrescenta Fernandes.

Ainda segundo ele, a nova edição da resolução 123 nasceu de consultas a técnicos e outros profissionais do HVAC-R, tendo contado também com o crivo dos conselheiros federais do CFT, antes de finalmente ser publicada no Diário Oficial da União, do último dia 14 de dezembro. “Por tudo isso, essa nova edição da CFT 123 foi muito bem fundamentada e vai trazer vantagens tanto para os técnicos como para a sociedade de uma maneira geral”, comemora o especialista. 

Isobutano na geladeira, que cuidados tomar

Como você certamente já notou, vem aumentando o uso de refrigerantes inflamáveis até mesmo em refrigeradores domésticos, principalmente o isobutano (R-600a).

Isso tem acontecido por duas razões principais. A primeira delas é que tais substâncias naturais, substituídas no passado pelos clorofluorcarbonos (CFCs), voltaram a ganhar espaço com a descoberta da agressão causada por esses compostos à camada de ozônio.

O segundo motivo é que fábricas de compressores como a Embraco desenvolveram tecnologias para evitar que o contato do isobutano com a atmosfera, dentro ou fora do equipamento, fique sujeito à ignição natural, provocando com isso incêndios e explosões.

No meio disso tudo estamos nós, refrigeristas, pois a forma como realizamos o nosso trabalho no dia a dia pode fazer toda a diferença entre segurança e alto risco, tanto para nós mesmos quanto nossos colegas e clientes.

Um bom começo nesse campo é ficar de olho em cuidados como utilizar equipamentos automáticos de carga, teste de vazamento e evacuação, pois eles funcionam de acordo com a pressão e demais características físicas e funcionais de cada fluido utilizado.

Durante a realização da carga, por sua vez, o negócio é usar ventilação mecânica sempre que necessário, assim como detectores de vazamento e sensores instalados próximos ao chão, considerando que o R-600a é mais pesado que o ar.

Já o risco de cargas potenciais eletrostáticas causarem faíscas perigosas pode ser evitado com o correto aterramento do sistema, providência mais que desejável quando se trabalha com o isobutano.

Quanto aos testes de vazamento no sistema, eles devem ser realizados sempre com hélio ou nitrogênio, jamais oxigênio, também como forma de se evitar combustão.

Uma vez concluída a carga, compete ao profissional jamais empregar chama para soldar as junções e conexões do circuito, atividade que desse ver realizada sempre por meio de soldagem ultrasônica ou sistemas de fixação de tubos como o Lokring.

Qualquer dia desses a gente volta a tocar nesse assunto, porque o momento da carga é apenas um entre os muitos que permitem converter de arriscada a altamente segura a utilização do R-600a.

Retrofit de R-600a para R-134a requer certos cuidados

Ao decidir colocar o fluido refrigerante R-134a no lugar do isobutano (R-600a) num sistema de refrigeração, deve-se ter em mente que a diferença básica está no lubrificante a ser utilizado.

Enquanto o R-600a funciona bem com óleo mineral, o R-134a trabalha com o sintético poliol éster (POE), que não tem a mesma facilidade de diluir graxas e outros resíduos.

Quando a mistura entre fluido e óleo se aquece, essas substâncias – agora indesejáveis – passam normalmente pelo sistema, mas, ao esfriar, acabam se depositando nas paredes internas, provocando com isso obstruções nos capilares, quando não no próprio evaporador.

O resultado dessa situação é parecido com os entupimentos causados pela umidade, ou seja, diminuição da capacidade de refrigeração do refrigerador.

Como, então, evitar esse efeito colateral no seu retrofit?

Pois bem, considerando que o R-134a tem densidade maior que o R-600a, os capilares passam do diâmetro 0,28 para 0,31.

Outra providência necessária é uma boa limpeza do condensador, o mesmo se aplicando com o evaporador, a linha de sucção e o próprio capilar.

Uma vez observados esses cuidados, vá em frente, pois certamente seu cliente ficará satisfeito com a qualidade do seu serviço.

E lembre-se sempre: em caso de qualquer dúvida em relação a esse tipo de retrofit, consulte o fabricante do compressor.