A hora e a vez dos hidrocarbonetos

Bem, você já deve ter percebido que os gases naturais R-290 (propano) e R-600a (isobutano) chegaram mesmo para ficar.

Caso contrário, um fabricante de compressores do porte da Embraco não teria hoje mais de 500 modelos, com diferentes tensões, eficiências e capacidades, adotando essas substâncias.

Os motivos para esse sucesso começam pelo baixo impacto ambiental, considerando aspectos como a preservação da camada de ozônio e o não agravamento do aquecimento global, e incluem a maior eficiência energética, que ajuda a natureza e também o bolso do usuário.

Mas, como nada é perfeito nesse mundo, os hidrocarbonetos são inflamáveis, o que deixa uma tremenda responsabilidade para nós, refrigeristas, pois a segurança da sua utilização depende de uma série de cuidados em campo.

Pra começar, uma carga deve sempre ser abaixo de 150 g, para impedir a possibilidade de criação de uma atmosfera explosiva, em caso de vazamento.

Mas também é necessário tomar bastante cuidado nas etapas de transporte, armazenagem, manuseio, instalação, operação, manutenção e descarte, pois em todas elas existem riscos.

Anote algumas dicas básicas do pessoal da Embraco para quem deseje trabalhar de forma segura com os HCs:

  • Nunca realize manutenção em produtos energizados.
  • Tenha disponível um detector de vazamento para gases inflamáveis, pois propano e isobutano não possuem odor.
  • Use disjuntores residuais (DR) de no máximo 30mA e bipolares para ligações bifásicas.
  • Garanta o aterramento de todo o sistema. Conduza uma análise de risco para determinar se o local é apropriado para operar.
  • O local de trabalho deve ser livre de fontes de ignição, como chamas ou dispositivos elétricos que gerem faíscas. Ex.: chaves de luz.
  • Assegure a existência de extintores de incêndio.
  • Utilize óculos e luvas de proteção quando estiver trabalhando com HCs.
  • Use cortador de tubos para desconectar o compressor e as tuberias, jamais maçarico.
  • Boa ventilação é essencial para reduzir o risco de formação de mistura inflamável.
  • Defina um programa de manutenção preventiva. Faça um checklist incluindo a inspeção periódica por vazamentos. A presença de óleo pode indicar pontos de vazamento de fluido refrigerante.
  • Use somente ferramentas e equipamentos aprovados para operarem em áreas perigosas.

Agora já temos mais informações sobre esse importante assunto, mas lembre-se: sempre vale a pena participar de cursos e treinamentos a respeito.

Isobutano na geladeira, que cuidados tomar

Como você certamente já notou, vem aumentando o uso de refrigerantes inflamáveis até mesmo em refrigeradores domésticos, principalmente o isobutano (R-600a).

Isso tem acontecido por duas razões principais. A primeira delas é que tais substâncias naturais, substituídas no passado pelos clorofluorcarbonos (CFCs), voltaram a ganhar espaço com a descoberta da agressão causada por esses compostos à camada de ozônio.

O segundo motivo é que fábricas de compressores como a Embraco desenvolveram tecnologias para evitar que o contato do isobutano com a atmosfera, dentro ou fora do equipamento, fique sujeito à ignição natural, provocando com isso incêndios e explosões.

No meio disso tudo estamos nós, refrigeristas, pois a forma como realizamos o nosso trabalho no dia a dia pode fazer toda a diferença entre segurança e alto risco, tanto para nós mesmos quanto nossos colegas e clientes.

Um bom começo nesse campo é ficar de olho em cuidados como utilizar equipamentos automáticos de carga, teste de vazamento e evacuação, pois eles funcionam de acordo com a pressão e demais características físicas e funcionais de cada fluido utilizado.

Durante a realização da carga, por sua vez, o negócio é usar ventilação mecânica sempre que necessário, assim como detectores de vazamento e sensores instalados próximos ao chão, considerando que o R-600a é mais pesado que o ar.

Já o risco de cargas potenciais eletrostáticas causarem faíscas perigosas pode ser evitado com o correto aterramento do sistema, providência mais que desejável quando se trabalha com o isobutano.

Quanto aos testes de vazamento no sistema, eles devem ser realizados sempre com hélio ou nitrogênio, jamais oxigênio, também como forma de se evitar combustão.

Uma vez concluída a carga, compete ao profissional jamais empregar chama para soldar as junções e conexões do circuito, atividade que desse ver realizada sempre por meio de soldagem ultrasônica ou sistemas de fixação de tubos como o Lokring.

Qualquer dia desses a gente volta a tocar nesse assunto, porque o momento da carga é apenas um entre os muitos que permitem converter de arriscada a altamente segura a utilização do R-600a.

Retrofit de R-600a para R-134a requer certos cuidados

Ao decidir colocar o fluido refrigerante R-134a no lugar do isobutano (R-600a) num sistema de refrigeração, deve-se ter em mente que a diferença básica está no lubrificante a ser utilizado.

Enquanto o R-600a funciona bem com óleo mineral, o R-134a trabalha com o sintético poliol éster (POE), que não tem a mesma facilidade de diluir graxas e outros resíduos.

Quando a mistura entre fluido e óleo se aquece, essas substâncias – agora indesejáveis – passam normalmente pelo sistema, mas, ao esfriar, acabam se depositando nas paredes internas, provocando com isso obstruções nos capilares, quando não no próprio evaporador.

O resultado dessa situação é parecido com os entupimentos causados pela umidade, ou seja, diminuição da capacidade de refrigeração do refrigerador.

Como, então, evitar esse efeito colateral no seu retrofit?

Pois bem, considerando que o R-134a tem densidade maior que o R-600a, os capilares passam do diâmetro 0,28 para 0,31.

Outra providência necessária é uma boa limpeza do condensador, o mesmo se aplicando com o evaporador, a linha de sucção e o próprio capilar.

Uma vez observados esses cuidados, vá em frente, pois certamente seu cliente ficará satisfeito com a qualidade do seu serviço.

E lembre-se sempre: em caso de qualquer dúvida em relação a esse tipo de retrofit, consulte o fabricante do compressor.