Dia Internacional da Mulher: parabéns, meninas!
Você sabia que já houve um tempo, lá atrás, em que sequer havia banheiro feminino em certas unidades do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), pelo simples fato de apenas homens passarem por suas escolas?
Isso mesmo, mas as coisas mudaram bastante ao longo dos anos, e hoje chega a ser comum a gente encontrar mulheres nas salas de aula, laboratórios e, o que é melhor, nas cerimônias de formatura, pois as meninas costumam ir até o fim naquilo que resolvem fazer.
Um exemplo disso é Fernanda da Mata Costa de Lima, de 37 anos, aluna do terceiro semestre do curso técnico de climatização e refrigeração da Escola Senai “Oscar Rodrigues Alves”, em São Paulo.
Além de já ter trabalhado em comércio de linha branca, ela foi incentivada a estudar lá pelo irmão, que se formou anos antes, na mesma unidade.
Numa demonstração da perseverança feminina, em 2011, ela passou na prova de admissão, mas não pode se matricular devido a problemas pessoais.
“Agora eu passei novamente e vou até o fim”, comemora, sentindo-se hoje bem mais próxima do sonho de entrar no varejo de peças como uma vendedora, realmente com conhecimento de causa.
Embora sonhe ser jornalista especializada em HVAC-R, Ketty Iara Barros de Lima tornou-se colega de classe de Fernanda graças à insistência do pai para que ela seguisse seus passos de ex-aluno do mesmo Senai, na década de 1980, e às recomendações de uma amiga, formada pela mesma escola onde ela agora está a um semestre de receber o diploma.
Mas o começo da estudante, hoje com 19 anos de idade, não foi lá muito encorajador. Logo no dia de sua prova, ela percebeu que ser aceita com naturalidade pelos colegas homens, maioria absoluta na área, não seria tão simples.
“Nossa, tem menina nesse lugar!”, comentou um candidato quando a viu fazendo sua inscrição no processo seletivo. “Eu acho que ele não passou na prova, porque marquei bem o rosto do menino e até hoje não o vi mais por aqui”, consola-se Ketty, com um sorriso nos lábios.
Apesar desse balde de água fria inicial, ela foi adiante, retomou as aulas depois de estar afastada por um semestre, e não se arrepende da escolha que fez. Pegou gosto pela coisa e vive saindo por aí olhando os detalhes das instalações de ar condicionado e refrigeração, dando seus pitacos para os marmanjos de plantão.
Aliás, ver detalhes é uma especialidade feminina muito conhecida por nós, homens, e que Fernanda considera um diferencial competitivo na profissão e na vida.
“Às vezes, o que eles esquecem a gente está dando a dica, como lembrar o cuidado com o EPI, para tirar a aliança e outras coisas assim”, ressalta ela, dizendo-se satisfeita com a forma como é respeitada por todos como mulher e futura profissional do HVAC-R.
Sensação semelhante tem Ketty, principalmente pelo fato de sua turma ser madura e praticamente ter abolido o machismo na forma de se relacionar com as duas únicas representantes do sexo feminino na sala.
Mas essa nossa futura colega também vê na personalidade da mulher habilidades que nos deixam lá atrás. “Precisa ver a diferença quando nós desamassamos uma tubulação, pois os homens vivem, em geral, estragando o serviço na hora do flangeamento, por exemplo”, orgulha-se Ketty, ao falar da importância da delicadeza em certos trabalhos.